Sabe aquele ditado que diz mais ou menos assim “ olham as pingas que bebo, mas não veem os tombos que levo”? Pois é, pensei muito nele na Itália. Especialmente, enquanto subia a montanha calçando botas pesadas de esqui, os sticks e a mochila, tudo isso com temperatura abaixo de 10 graus negativos..cheguei até menos 24 e num dos dias, enfrentei uma tempestade de neve. Ah, esqueci de mencionar que os pés enterram na neve, as luvas não te permitem sentir direito os objetos, porém se ousar tirar, elas ficam vermelhas, depois roxas e congelam.
Você não sobe tudo a pé, primeiro você vai de teleférico. Para entrar, você passa com um cartão especial. O bom da alta tecnologia é que o leitor lê o código mesmo que esteja dentro de seu bolso o que é bom porque não há mãos livres para mostrar o cartão. Após esta fase, corre e pega a gôndola….. mas antes, com ela ainda em movimento, você coloca os esquis nos espaços externos da gôndola. É preciso ser rápido.
A vista é divina, encantadora mesmo. O branco da neve, por vezes quase azulado, me fez pensar em comercial de sabão em pó, tudo muito muito mais branco . Observo os pinheiros que resistem ao frio e à neve e reflito sobre os símbolos de Natal.
Aposto que você pensa que chegando ao topo, é só sair esquiando..lindo como nos filmes…desculpe-me..nem tão simples….a sensação de frio aumenta e você caminha, o que para mim é uma eternidade, montanha acima, íngreme, botas pesadas, mão ocupadas e você caminha colina acima até chegar a uma esteira que te leva mais acima ainda. Antes de pisar na esteira, coloca os esqui e tenta se equilibrar na esteira durante mais uma eternidade.
Wow! Tecnicamente, é bem simples, esquis em formato de pizza para parar, pressão no pé direito para virar à esquerda e pressão do lado esquerdo para virar à esquerda. Soa fácil? Após muito tombos, você acaba automatizando isso, mas leva pelo menos uns quatro dias para conseguir descer as colinas. Sabe que o pior não é cair, é levantar, quando você tem pés gigantes e pesados, o chão escorrega e não há no que se apoiar. Nesse momento de cansaço extremo, você olha toda a colina que você ainda tem que descer e pensa: ” Será que não tem outro meio de descer? Assim, tipo skibunda??” Não, não há, o jeito é meter as caras e encarar.
Durante, a escalada eu pensava “ por que estou fazendo isso?” Então, conclui que fiz por mim, pois preferia me arrepender de ter tentado do que de jamais ter me permitido esta experiência e, depois, já no Brasil ficar pensando..Ah da próxima vez!..pode não haver próxima vez…..mas também, fiz por meus filhos, tinha que ser consistente com minha filosofia de vida, não podia me acovardar frente ao novo. E lá fui eu….Foi bom, esquiei e curti com filhos e amigos uma semana encantadora.
Confesso, que a experiência foi muito boa, apesar dos hematomas em minhas pernas e das dores nos músculos, e agradeço por esta oportunidade. Todavia, já que estou fazendo confidências, aproveito para abrir meu coração e dizer que a melhor parte foi ficar no restaurante bebendo jagertee e comendo apfestrudel. Por último, questiono por que não ficar num restaurante italiano cercada de boa comida e aquecida, saindo ocasionalmente para garantir uma foto, admirar a vista e tocar na neve?
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