quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A Escola no Novo Normal

Após tanto tempo de confinamento, privilegiar atividades que oportunizem exercícios físicos e ao ar livre é fundamental, sempre aliando movimento e aprendizagem. Nosso cérebro memoriza melhor aquilo que é percebido/aprendido por mais de um sentido e ligado à emoção. Trabalhos em equipe também são mais indicados para superar essa fase de isolamento que pode ter gerado um hábito de trabalhar sozinho e até acentuado a timidez. Há muito que a escola deixou de ser um arcabouço de conhecimento. Hoje em dia, a informação está a um click. Por isso, o papel da escola atualmente, e cada vez mais, é o de desenvolver outras habilidades e competências como falar em público, expressar a opinião ou fazer apresentações gravando em áudio ou com imagem, gerenciar problemas e buscar soluções, construir network, ser flexível, ouvir o outro, superar fracassos e outras habilidades como sentir empatia que leva a compreender o outro sem julgamento e se envolver em projetos sociais. Paralelamente, toda a área de tecnologia precisa permear a construção do conhecimento. Novas habilidades precisam ser desenvolvidas e aprender a estar sempre alerta para o novo. Nosso cérebro procura sempre o cômodo ou o conhecido para economizar energia. Por isso, há sempre certa aversão natural a tudo que é novo. A escola precisa instigar a curiosidade para aprender coisas novas e, no caso da tecnologia, a inovação é constante. Atividades diversas como jardinagem e culinária são importantes porque através desses momentos mais leves as crianças aprendem língua nacional ou estrangeira, matemática, ordenar ações, trabalho em equipe, lidar com imprevistos e quem sabe até descobrir um hobby.
Antes da pandemia já nos preocupávamos com o excesso de telas na vida especialmente dos adolescentes. Hoje esta é uma preocupação ainda maior, pois o uso nas aulas on-line acentuou esta tendência. O desafio é desenvolver atividades tão motivadoras que os alunos esqueçam o celular por alguns momentos. Atiçar a curiosidade do aluno é essencial para desenvolver o aprendizado. Surpreender o aluno com propostas diferentes de forma que ele vença a inércia e se permita vivenciar algo fora da sua zona de conforto ,que hoje está no bolso ou na mão, é um desafio constante. Os jovens chegam a ter crises de ansiedade quando se encontram longe dos seus celulares ou sem bateria. Por este motivo, não adiante proibir o uso. O celular tem que ser aliado. Daí a necessidade de surpreender o aluno, apresentar algo diferente e provocar reflexão.

sábado, 11 de setembro de 2021

Intercâmbio - uma experiência para a vida toda

Você lembra da última vez em que fez algo pela primeira vez? Um artigo publicado na Nature Reviews (artigo de autoria do D Butterfield, Allan e Hallwell, Barry) recomenda como formas de retardar o surgimento de demências: socializar, fazer exercícios físicos, manter uma alimentação saudável e aprender coisas novas. O cérebro precisa desse esforço em aprender para realizar mais sinapses e manter-se ativo. Uma vez que a longevidade já é uma realidade, o que podemos fazer? Atualmente, viajar está num momento bem restrito, porém tão bom quanto viajar, é planejar. E ao pensar em planejar como não pensar em um intercâmbio. Se viajar é bom, imagine participar de um programa internacional. Recentemente, tive a oportunidade de colher experiências vividas por pessoas em intercâmbio cultural, profissional e de trabalho. À primeira vista, a proposta parecia assustadora para todos e ao mesmo tempo muito atraente. Vencida esta etapa inicial, jogar-se no planejamento e preparação é o melhor caminho. Porém, podemos pensar que, para aprender um idioma, não precisamos sair do nosso próprio país. E esta afirmação está correta, entretanto, um intercâmbio vai infinitamente mais longe. Viver em um outro país te permite: experimentar a comida nativa; fazer caminhos e perder-se, enfrentar o novo e descobrir que diferente não é errado, pois há várias formas de pensar e viver. Para os brasileiros em terras alheias, por exemplo, o banho sempre causa estranheza. Uma brasileira trabalhando como “au pair” nos Estados Unidos por exemplo, foi surpreendida com a ordem para não dar banho no bebê todos os dias, bastava uma vez por semana. Um outro estudante relatou que tomava banho na Universidade porque na casa onde estava hospedado reclamavam que ele gastava muita água e energia com banhos diários. Nem tudo são flores, porém são esses perrengues que trazem muito aprendizado em termos de autonomia e iniciativa. Um dos jovens entrevistados foi operado de apendicite enquanto estava num intercâmbio nos Estados Unidos numa época em que não havia redes sociais muito menos WhatsApp. Desnecessário descrever a angústia da família, mas tudo acabou bem. Ouvi também um rapaz que sofreu um acidente e a família foi para o Canadá disposto a trazê-lo de volta. E, retornaram sozinhos porque o filho também se recusou a antecipar a volta. Estes são casos mais drásticos. Normalmente, as intercorrências não são assim tão sérias, embora tenha lidado com um grupo de dez intercambistas que pegaram mononucleose e dois que pegaram dengue. Certa vez, ouvi um amigo aconselhando a filha para que o intercâmbio que ela iria fazer não fosse o ponto alto do currículo dela. Hoje vejo que isso é impossível, nada supera esse ano tão especial. As experiências, as expectativas, as frustrações e as amizades ficam para toda a vida. Em termos de currículo, esta experiência é fundamental e chega a ser eliminatória para programas de trainee. Isto ocorre porque, as empresas veem no profissional um perfil de pessoa com autonomia, independência, iniciativa, criatividade e desprendimento. Por tudo isso, sempre que conversamos com um intercambista percebemos seu olhar distante e os olhos marejados ao relembrar tudo o que viveu e, naturalmente sempre encerram suas histórias dizendo que foi a melhor experiência de suas vidas.
Artigo Publicado em A Tribuna em 25 de junho de 2021