terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Primeiro dia de aula - quem chora?

Início do ano letivo, reunião da escola, entrega de material, compra de uniforme, lancheira e mala. Na cabeça da mãe, passa, como num filme, um milhão de detalhes para resolver. O cenário  mental é quase dantesco: a  mochila tem que ser com rodinhas – para não prejudicar a coluna, o lanche tem que ser  saudável – conforme determina a nutricionista, o material todo etiquetado e encapado, enfim, uma mãe perdida entre tantos papéis com tipos e padronagens diferentes e um medo imenso do que a espera: deixar o filho na escola. Medo e ansiedade ancoram no coração das mães.
Chegada na escola, com a imensa sacola de material no ombro, o coração pesado com saudade antecipada  e a curiosidade aguçada. Neste dia, a primeira reunião com a professora, ou melhor com aquela que irá levar seus filhos para um outro lugar, ou melhor dizendo um outro mundo   onde a mãe não faz parte, pode até visitar, mas não pode e não deve permanecer. Este fato fere com atrocidade  um coração de mãe porque este momento de deixar o filho na escola é um segundo parto, muito mais difícil que o físico, pois laços invisíveis parecem desfazer-se.
Enrijecida com receio de que o filho sofra e, ao mesmo tempo, temendo que o filho se encante demais com aquela que não é TIA, mas é chamada e será amada como tal, a mãe leva o filho pela mão até sua sala. Ao deparar-se com a mulher que, daquele momento em diante será considerada a mais inteligente das mulheres e sem dúvida, emprestando o slogan do comercial de sutiã, a primeira professora a gente nunca esquece,a mãe hesita e  torna-se difícil dizer qual sofre mais :aquela mãe cujo filho  se despede e se entrega às novas aventuras com galhardia ou aquela   cujo filho, sentindo a hesitação da mãe, agarra-se tentando retardar a separação.
Todos nós sofremos perdas e cortes dolorosos, mas, assim como a árvore não morre ao ser podada, ao contrário, brota com mais vigor, o ser humano é capaz de  se renovar a cada novo ciclo. As árvores são símbolos do ser humano e do universo em suas vidas cíclicas: queda de folhas, brotos novos, flores, frutos, sementes, nova árvore, novo broto e mais um ciclo de vida com todos os mistérios da vida, morte, alegria e dor que se alternam na existência humana.
Ao sair da escola, de mãos vazias – pois o filho ficou na escola - e livre do peso da sacola com  material escolar, observe as árvores do caminho. Elas também têm muito a ensinar!

Um oferecimento:


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Tamanduá

Você já olhou para o chão depois que várias crianças acabaram de lanchar?
Recordo-me bem de minha mãe varrendo o chão e dizendo:  - Queria ter umas galinhas para comer estas migalhas todas!  Era uma época em que as crianças brincavam no quintal ou na rua e às 17, voltavam para casa para o café das 5. Era hora do leite com café, pão tão quentinho que derretia a manteiga passada ou bolinho de fubá, também recém- saído do forno.
Quando meus filhos eram pequenos, meu discurso era – Queria ter um tamanduá como pet para que ele não só recolhesse as migalhas - as côdeas de pão, como dizia minha mãe, mas também para aspirar as formigas, especialmente da sala de brinquedos onde restos de bolachas, pipocas e outras coisinhas   teimavam em aparecer por lá.
Sempre que íamos a um zoológico, e íamos muito, meus filhos diziam: -  Olha, seu pet dos sonhos, mãe!  E eu brincava: - Vem pra minha bolsa, vem!!

Por isso, ao ver a notícia cuja foto anexei, lembrei –me de minha infância e de meus filhos. Quem sabe ainda arrumo um de estimação???  Já vi pessoas que têm porcos, iguanas e gansos, por que não? Brincadeiras à parte, fico feliz ao ver que nossa fauna é tão rica e valorizada!! Ainda temos muito a descobrir!
Um oferecimento:


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Diário ou agenda?

Escrever é um dom?  É treino ?  Pode ser  aprendido? 
Acredito que seja um pouco de tudo. Para alguns parece fluir como um dom, por outro lado treinando podemos aprimorar a técnica.  Desde a adolescência que mantenho diários, escrevo sonhos que tenho, planos, rezas, promessas, desabafos, sentimentos, conto minhas histórias para mim mesma de forma a preservar sentimentos e sensações ou digerir melhor alguma situação difícil.
Às vezes, penso no que fazer com eles: devo destruí-los? Não tenho coragem. Releio? Raramente. Talvez, durante a arrumação dos armários, eu me detenha em algumas páginas, mas nada muito longo. O lugar deles é lá, no passado mesmo.
Ao passear por uma livraria, fiquei muito feliz porque vi que alguém me compreende. Encontrei alguém que não só  mantém diários/ agendas como ensina a fazer. Encontrei o livro Diário em tópicos de Rachel Wilkerson Miller.
O livro é muito interessante, pois sugere que se escreva lista de filmes assistidos no ano, livros, séries de TV, músicas, lugares frequentados, trechos de textos que marcaram e que se anote a vida financeira também. Gostei da categorização e organização. Meus diários/ agendas seguem um sistema que desenvolvi usando clips coloridos. Vermelho para urgências, verde para financeiro, vermelho ou rosa para coisas que gosto, dourado ou amarelo para palestras e cursos. Ao final do ano, meu diário/ agenda é quase uma enciclopédia Barsa de tão grosso!!  Oh, meu Deus, revelei minha idade...quem sabe o que é Barsa hoje em dia??...rs
Na era da Tecnologia, talvez as pessoas se perguntem porque não uso a agenda digital. Eu uso, meu celular detém as informações de compromissos agendados e, em alguns momentos, até tomo algumas notas. Mas, é na querida agenda/ diário que me esparramo de coração.
Experimente! Um diário é uma companhia e uma fonte de auto-conhecimento, além de ser um grande instrumento de organização.
Depois, me conte.


Um oferecimento,






quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Mães, máquinas de costura e modernidade

Minha mãe era costureira e, muitas vezes, adormeci e acordei ao som da máquina de costura dela. Até hoje, às vezes, pareço acordar  e ouvir ao fundo o barulho constante da máquina. Fico surpresa e, ao mesmo tempo, triste, ao perceber que não voltei à infância nem àqueles momentos  cujo movimento ritmado me embalava.

Mantive a máquina comigo como uma forma  de guardar em cada uma de suas gavetinhas as histórias de minha infância. Por exemplo, tínhamos um acordo, domingos após o almoço, eu arrumava a cozinha  enquanto ela costurava algo novo para mim: blusas, vestidos, saias...minha mãe era rápida e costurava muito bem! Outra diversão era ver vitrines, escolher modelos que depois seriam costurados por ela. Escolher tecidos nas grande lojas do ramo como As Pernambucanas fazia parte dos programas também. Algumas lojas tinham até modistas que desenhavam modelos de vestidos de festas como a Lascane  no centro da cidade.
Com estes pensamentos invadindo minha mente, comecei a pensar se haveria um som que remetesse meus filhos a minha pessoa. Debati-me tentando encontrar algo até que me lembrei que meu filho me chama de menina de praia , logo talvez o barulho do mar que tanto amo poderia remeter a lembranças de mim. Enquanto formulava esta crença, escuto minha filha gritando da sala de TV:”Mãe, também quero cappuccino!” Neste instante, percebi que o barulho que remete a mim é o do micro-ondas!!!! Sinal dos tempos, tempos modernos!
E você? Algum ruído  remete à sua mãe ou à infância? Qual?  E como  você será lembrado ou lembrada? 
Um oferecimento:


segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Uma cinquentona


Uma cinquentona….ela passou pela revolução de 64, temeu o golpe de estado, os cara- pintada na rua e todos os movimentos das Diretas-já, viu a eleição de Tancredo Neves , a posse do Collor e vou te poupar de relatar todos os fatos históricos e nomes de presidentes militares ou não. Até um impeachment, ela testemunhou!
Sofreu com a inflação descontrolada e sobrecarregou-se para colaborar com o orçamento doméstico estocando produtos.
Na vida pessoal, participou do crescimento da família com a chegada de uma menina e depois de um menino. Testemunhou o crescimento dos dois aprendendo a andar, falar, correr e brigar. Até um gato trouxeram para casa.

Com tristeza viu as crianças crescendo, saindo de casa, porém retornando com os bebês.
A saúde? É inspirou cuidados algumas vezes, mas sempre contornáveis e lá permaneceu firme e forte. Sair de casa? Aposentar-se? Nem pensar. Já fazia parte da família.
Com pesar, presenciou a partida de um membro da família. Baqueou, mas lá permaneceu intrépida, vitoriosa. Um exemplo do que é resiliência.
Aos 54 anos ainda está majestosa e até conservada para a idade. Não sei se o pinguim é o responsável por mantê-la trabalhando até hoje. Sei apenas que ela reina absoluta em lugar de destaque na cozinha: a original geladeira Frigidaire. Desde 1963.

Um oferecimento:


segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

São Longuinho e as chaves

Responda rápido: O que você faz quando perde alguma coisa? Bem, eu sempre acho que perdi os cartões, a carteira, os documentos, dinheiro, por isso tenho larga experiência em responder: Fico desesperada. Minha filha já nem se abala e afirma:  - Mãe,  você nunca perde nada.
Nem posso reclamar, porque ela está certa, mas, em desespero, invoco São Longuinho, Santo Antônio e se a coisa apertar até o Saci –Pererê. Dou 3 pulinhos e gritinhos com grande animação e em agradecimento profundo. Já para Santo Antônio apelo para minha madrinha e comadre implorando: - Você que é mais amiga dele, pede pra mim vai?
As coisas agora estão mais difíceis, pois as chaves começaram a desaparecer.... verdade...desaparecimento espontâneo...somem da mesa, da fechadura, do porta-malas. Levamos algum tempo para perceber que São Pedro estava morando em casa....
Um belo dia, olho para os bolsos da calça do meu pai e percebo que estavam cheios, volumosos e pesados. Então, perguntei o que ele tinha nos bolsos e uma luz se acendeu em minha mente ao ouvir:   – Minhas chaves!

 Agora ficou fácil descobrir o paradeiro das chaves, complicado está fazê-lo entender que a chave não é dele. Restou-me rezar para São Pedro na esperança que a sessão convencimento seja breve porque o velhinho é ligeiro, descuidou, dançou, #probolso. Fico imaginando que estarei fazendo o mesmo em alguns anos, mas comigo irá tudo para as minhas bolsas já apelidadas de buraco negro.#sãolonguinhomeacuda!

Um oferecimento: