Ir em um programa de intercâmbio não é “pros fracos não”, o processo exige além do teste de conhecimentos gerais e de língua, um zilhão de documentos que por si só já é desanimador. Na verdade, acaba sendo uma grande prova. Se você conseguir cumprir todas as exigências, não há dúvida de que superará qualquer empecilho.
Nestes termos, meu filho resolveu “enfiar o pé na jaca”, já que é pra ir em intercâmbio, porque não Taiwan, Coreia ou Índia? Imersão total em outra cultura. Ninguém poderá afirmar com tanta propriedade que algo não é errado, apenas bem diferente e deve ser respeitado.
Em dois meses, as etapas vão se sucedendo: dinheiro, locomoção , amizades, comportamento e linguagem.
Com certeza, não irão parar por aí. Somos frutos de uma programação que foi iniciada ainda no ventre materno. Por isso, é difícil vencer alguns hábitos para assumir outros. Neste caso, para ajudar no processo, uma ferramenta importante é a observação. Olhar com atenção, como se comportam, agem, fazem, respondem. Este é o olhar que a criança tem por isso aprende rapidamente, pois observa atentamente e copia os gestos, trejeitos e palavras. Observe quanto tempo uma criança fica olhando um animal numa visita ao zoológico, por exemplo. Ela se detém nas minúcias. Com o passar dos anos, vamos perdendo essa capacidade. E, hoje em dia, com os olhos sempre voltados para a tela perdemos mais ainda essa capacidade. Paralelamente, para contribuir ainda mais com essa desatenção aos detalhes que nos cercam, não há mais predadores prontos para nos atacar e nosso sistema cerebral primitivo está sendo modificado.
Após dois meses num outro país, o mínimo necessário para sobreviver já está internalizado, mas resta torná-lo um hábito e apreender as minúcias, pois a jornada está só começando. Uma jornada muito além de conhecer outros povos, trata-se de mergulhar para dentro de si mesmo rumo ao auto-conhecimento. Descobrir o que é característica sua ou de seu país, o que me leva a agir assim, porquê faço assim, e se é possível também fazer de outro jeito.
Quando você vem de uma família com uma mãe latina super atenciosa, carinhosa e prestativa, pode ser o grito de independência ou o desespero. Será a hora de aprender a sobreviver sozinho. O mais importante é manter a mente e o coração abertos para o novo sem julgamentos e acreditar que tudo dará certo, não importando o quanto pareça fadado ao fracasso.
Para encerrar, lembro-me de um provérbio português recitado constantemente por minha mãe para nos ensinar a importância do observar, aceitar e imitar: “À terra onde fores ter, faze o que vires fazer”. Assim, como imigrante, minha mãe falava de cátedra, com a experiência de quem viveu, sofreu, venceu e aprendeu.
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