A menina em seu lindo vestido
rosa reclamava com a mãe porque os laços de seu vestido não estavam
simetricamente equilibrados. Na opinião dela, um lado estava maior que o outro. Ao observar aquela cena,
pensei se seria o caso de uma criança já
com tendências perfeccionistas ou
havia indícios de um transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC) em tão tenra
idade.
Segundo a psicóloga Priscila
Chacon, o TOC é um transtorno multideterminado, ou seja, pode haver uma
tendência hereditária, mas o meio ambiente e acontecimentos também podem ser
fundamentais para o desenvolvimento do transtorno. Alguns fatores de risco como
baixo peso no nascimento e pais superprotetores
também devem ser considerados. Ainda segundo a psicóloga, “ a criança
passa a ter pensamentos ou imagens obsessivas e ela não quer ficar com aquilo
na cabeça. Daí tem uma ação compulsiva para aliviar o pensamento ruim.”(
in A TRIBUNA – 17 de maio de 2012).
Na mesma corrente de pensamento,
a Dra Ana Beatriz afirma que “tais pensamentos são considerados impostos e
desagradáveis pela pessoa que os apresenta e são motivo de grande ansiedade e
sofrimento.” Os comportamentos repetitivos mais comuns são de limpeza,
verificações repetitivas, contagem e arrumações intermináveis. Durante um curto
período, estes rituais aliviam a carga dos pensamentos desagradáveis, porém
eles retomam logo em seguida gerando mais rituais.A Dra Ana Beatriz aponta que,
segundo pesquisas, há uma predisposição biológica a reagir de forma acentuada
ao stress.
Este fato me preocupa como educadora,
pois a fase de alfabetização, normalmente, gera muita ansiedade nos pais que
acabam transmitindo esse sentimento para as crianças. Aprender a ler e escrever
é um processo longo com várias etapas e variantes comuns para o professor
experiente que lida com isso no seu dia-a-dia, porém causa muito ansiedade nos
pais e por conseqüência nos filhos. Nesta fase, é comum começar a despontar
alguns rituais como apagar inúmeras vezes até que tudo esteja bem simétrico, só
usar um determinado lápis porque sem ele
nada dá certo.
Outra fase difícil são as competições. Muitos educadores
condenam competições antes dos 10 anos a menos que sejam em jogos
cooperativos.Entretanto, no próprio futebol, cada vez mais novas as crianças
entram pra valer em competições nas mais variadas categorias que começam com os
fraldinhas. Eu presenciei pais gritando, ofendendo professores, técnicos e os
próprios filhos numa agressividade
desmedida e desproporcional. Tanto as cobranças em termos de saber ler como da
performance em esportes podem desencadear o TOC.
Talvez, a menina do vestido rosa
que mencionei no começo deste artigo, estivesse apenas querendo ficar mais
bonita, aliás característica tipicamente feminina, mas vale a pena ficarmos
sempre de olhos bem abertos.
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