Ouvir aquela pessoa que diz que não gosta de canela, chegar
em casa dizendo que experimentou uma sobremesa no trabalho e o gostinho de
canela a fez lembrar da avó é, no mínimo, surpreendente. A memória olfativa também nos prega peças e nos ajuda a viajar
no tempo. O que lembra a sua infância ou a sua mãe? Pense e aquele sabor chegará até
você.
Minha mãe fazia aletria e decorava cada pratinho com canela
num desenho simétrico que lembrava um jogo da velha . Ainda no Natal, fazia o
Napoleão, que era um pavê de coco divino com bolacha champanhe. Portanto, Natal
lembra comida e também os entes
queridos. Minha sogra fazia um bolo que apelidamos de bolo múmia porque tinha
que ser feito um mês antes. Algumas dessas receitas se perderam. Outras ainda
existem. Fazê-las em família aproxima os sobreviventes, traz histórias para os que não
conheceram e ajuda a aliviar um pouco a saudade. Além disso, John Gray, no livro Os Homens são de Marte e as mulheres
são de Vênus, os homens conversam mais confortavelmente quando estão em posição
lateral do que frente a frente. Logo, cozinhar lado a lado pode ajudar muito a melhorar
a relação.
Cada vez que faço uma das receitas de minha mãe, sinto-me
voltando no tempo. Como minha filha descrevendo o cheiro e o sabor da canela, meu irmão
lembrando o pavê de coco ou meu filho do pudim de Natal, cada tom faz com que
novamente possamos sentir o abraço, o toque, o sorriso, o olhar de alegria.
Cozinhar propicia uma viagem mágica através dos sabores e aromas de volta a um
tempo inesquecível.
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