Eis que eu e minha família estávamos
em uma loja e, de repente, surpreendi-me voando para o passado na
hora de efetuar o pagamento. Isto aconteceu porque paguei um casaco
de uma marca famosa para meu filho com uma nota de 100 dólares, além
do casaco ainda devolvi para a carteira mais 265 pesos.
Neste momento, sai da loja lembrando da
época da alta inflação no Brasil e como professora que sou iniciei
as aulas de história para meus filhos.
Houve época pré Presidente Fernando
Henrique que a inflação estava tão alta que praticamente trocamos
nossa moeda corrente por uma senhora chamada TR . Esta senhora
possuía a capacidade invejável para qualquer mulher: renovação
diária! A cada dia mais jovem e renovada. Digo isto porque este
indexador era atualizado diariamente e os preços subiam
assustadoramente.
Em virtude desta inflação
desenfreada, desenvolvemos certos hábitos difíceis de largar até
hoje como: estocar comida e pagar as contas só no dia do
vencimento.
A ida mensal ao supermercado era uma
maratona com carrinhos abarrotados e sem leitor de código de barra,
é isto mesmo, os produtos eram registados um a um digitando cada
produto. Levávamos horas para fazer as compras, olhando os preços,
comparando, fazendo contas sem falar na fila do caixa. Ao chegar em
casa, haja freezer e armários para guardar tudo. Outro, esquema era
montado: passar os produtos com validade próxima para a frente e no
fundo do armário as demais. Para o freezer, ainda era necessário
etiquetar e verificar a validade. Era enlouquecedor!
O valor dos produtos mais caros como
carros eram também em TR ou em dólares. Parcelamentos também eram
com indexadores. Os carnês das mensalidades escolares eram emitidos
mês a mês sempre atualizados e próximo da data de pagamento. E,
assim, vivemos, anos a fio sem conseguir vislumbrar uma luz no fim do
túnel. Viajar para o exterior parecia impossível pois nossa moeda
estava muito desvalorizada.
Nesta viagem ao passado, compadeci-me
da situação da Argentina. Eles que já tiveram uma moeda muito mais
forte que a nossa, lotando os resorts brasileiros, aproveitando
nossas praias e nos matando de inveja ao dizer: Dá-me dos!,
hoje passa por uma situação bem difícil aceitando qualquer moeda
desde que faça a venda.
Talvez meu choque tenha sido maior por
ter vindo de um país cuja moeda - a libra esterlina- valia mais de
quatro vezes o real, então inverter a situação foi bom, mas também
assustador.
De qualquer forma, a viagem foi ótima.
Usufrui momentos maravilhosos ao lado da família e amigos, mas sem
deixar de ensinar um pouco de história recente do Brasil e de como a
vida tem altos e baixos. Precisamos viver os momentos de glória, sem
menosprezar os menos favorecidos pois a vida é uma roda. Ser filho
de professora é assim, tudo é motivo de reflexão e aprendizagem
até em férias!
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