segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Eu laudei, tu laudaste, nós laudamos..

Sempre ouvi dizer que de médico, poeta e louco todo mundo tem um pouco e foi assim que saímos nos sentindo após três dias em um Congresso Internacional sobre dificuldades de aprendizagem e inclusão.
A cada palestra, a cada mesa redonda, a cada conferência saíamos com mais e mais certezas e dúvidas sobre nós mesmas e todos os que nos cercam. Começamos por nos auto-analisar e, claro, impossível não lembrar dos amigos e dos familiares. Entre nós, já começamos a nos diagnosticar: somos duas com TDAH, outra com transtorno obsessivo por compras, outra com alguma TEA indefinida – porque todo mundo tem alguma característica   de TEA  leve - e outra com síndrome de ansiedade crônica. Resumindo, todas fazem parte da inclusão no ambiente de trabalho!
Na verdade, brincadeiras à parte, o objetivo desta postagem hoje é salientar que, como afirmou Julio Furtado em sua palestra, criamos o típico para justificar o anormal e assim, formar-se a contradição, mas o que é típico?
O indivíduo padrão típico, filho da modernidade, é objetivo, cumpre regras, esforça-se para progredir e se assim é alcança seus objetivos. Todavia, o que dizer daquele aluno que aparentemente não presta atenção, não faz lição, porém é capaz de responder tudo?
Além disso,é anormal esquecer objetos, recados , reuniões ou perder-se com facilidade? É típico memorizar tudo assim  que nos é apresentado e saber localizar-se?
Os parâmetros servem para nos ajudar a traçar uma linha de conduta ou estratégia, mas precisamos tomar cuidado para não categorizar, julgar e punir indiscriminadamente.
A escola de hoje é fruto de séculos de políticas e esforços homogeneizantes com o firme propósito de tornar todo mundo  igual: mesmas roupas, mesmas ideias, mesmos sonhos, mesmas facilidades.Entretanto, as diferenças são a base da experiência e da possibilidade pois geram pontos de vista diferentes e soluções surpreendentes.
Alguns professores ainda mantém o sonho de uma classe homogênea, mas como pode existir tal turma se cada ser humano é um ser único?
Michel Serres afirma que “ Antes de ensinar qualquer coisa a alguém, é preciso, conhecer esse alguém.” E para tanto, precisamos observar atentamente  que “ sem que percebêssemos, nasceu um novo ser durante um curto intervalo, aquele que nos separa da Segunda Guerra Mundial. Ele ou ela não tem mais o mesmo corpo, a mesma esperança de vida, não habita mais o mesmo mundo exterior, não vive mais na natureza,nascido sob peridural e com parto programado não teme mais  a mesma morte com efeitos paliativos.” ( Michel Serres, 2011) . Vale lembrar que um novo ser demanda uma aproximação diferente.


Obs. Laudar é um verbo inexistente nos léxicos da língua portuguesa, assim como o seu particípio laudado em função adjetiva.visualizado em 9/09/13: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/laudar.htm

5 comentários:

  1. Só conseguiremos ter uma sociedade mais justa e desenvolvida econômica, tecnológica e
    intelectualmente, quando todos tiverem acesso não só a uma vaga na escola, mas a uma educação
    que realmente proporcione a todos assenhorear-se do conhecimento. Restringir-se a cuidar das
    crianças, é empobrecer função da escola, que é educar. Dessa forma, os ciclos de aprendizagem
    dão oportunidades para que todos consigam atingir os objetivos propostos em um período maior
    do que no sistema seriado, que era de apenas um ano. Aquela criança que necessitar de mais
    tempo para aprender determinado conteúdo terá sucesso, mas, além de implantar os sistemas de
    ciclos, ações sejam realizadas para que eles realmente tornem-se uma proposta de inclusão,
    como: atenção ao ritmo e tempo de cada aluno, considerar que as diferenças presentes na sala de
    aula contribuem com o professor e não ao contrário, buscar alternativas no grupo (sala de aula)
    para maior atenção aos alunos que apresentarem dificuldades, formação continuada dos
    professores, avaliação do processo de aprendizagem individual e na totalidade da sala de aula,
    utilização de materiais pedagógicos diversificados, entre tantas outras a serem implementadas.tEMOS QUE CRIAR NÓSSA PRÓPRIA INCLUSÃO ... pARABÉNS aMIGA aNNA OUTRO TEXTO ESPETACULAR !ABRAÇO FRATERNO

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada! Vc complementa muito bem meus textos acrescentando ideias e me motivando.Sonho com esta nova escola e acredito que juntos conseguiremos grandes resultados!Obrigada pela cooperação e incentivo!! Um grande abraço!

      Excluir
  2. Anninha:

    Acredito que o objetivo precípuo desse Congresso foi
    semear dúvidas e fragilizar as certezas.
    As técnicas de ensino estão cada vez mais confusas, polêmicas e acondicionadas numa caixa-preta.
    Não creio na existência do "indivíduo padrão típico", que se esforça, que cumpre regras, objetivo. Ao contrário, encontro muito mais descumpridores de regras, que têm pouca objetividade e esforço quase nenhum. Esse é o padrão atual por "n" motivos que prefiro não elencar para não me alongar exaustivamente e não cansar a blogueira.

    Essa pretensão utópica de formar turmas homogêneas, com todos usando a mesma roupa, com as mesmas ideias, mesmos sonhos, numa igualdade total decretou a falência e o fim dos regimes comunistas. Isso é impossível.

    No que diz respeito à sua amiga que padece do transtorno obsessivo por compras, a cura é bem simples: basta cancelar o seu cartão de crédito.

    R.Floyd

    ResponderExcluir
  3. Caro R. Floyd,
    A clientela das escolas mudou e por isso tudo tem que mudar. Não há confusão alguma, a questão é que alguns teóricos da educação e políticos encontram-se em torres de marfim cerceados de todo e qualquer contato com o universo da sala de aula.Daí temos professores do século passado, tentando ensinar gerações deste século para viver o próximo século numa era em que o acesso à informação é muito fácil e rápido. É hora de despertar, para de reclamar e fazer!

    ResponderExcluir
  4. Anninha:

    O resultado dessa fantasmagórica associação - políticos canalhas e atabalhoados teóricos da educação - encastelados em torres de marfim, você pode encontrar no site www.topuniversity.com.
    Procure a classificação da USP, UFRJ, UNICAMP no ranking mundial.
    Acho até que merece uma reflexão para futuros textos no seu blog.

    R.Floyd

    ResponderExcluir

Aguardo seus comentários.Eles são muito importantes para mim pois meu objetivo é aprofundar conhecimentos e esclarecer minhas próprias dúvidas.