O filme O Sorriso de Monalisa ilustra magnificamente algumas das ideias de Paulo Freire sobre a instituição escolar e o ensino tradicional.
Primeiramente, observa-se a classe burguesa e dominante
controlando a vida das alunas para aceitarem e sonharem com o casamento como a
única possibilidade de futuro promissor e perfeito. Ao longo do filme, vemos
várias propagandas onde a moça é apresentada como a dona de casa feliz cercada
de suas tarefas e utensílios do lar. Neste cenário,pensar ou fazer análise
crítica de fatos não está entre suas possibilidades. As mulheres eram criadas
para almejar casar-se, de preferência, enquanto ainda cursavam a faculdade e ainda ensinadas a aceitar as normas e a situação vigente.Aquelas
que não estavam namorando ou que ousavam
buscar o conhecimento eram excluídas e menosprezadas. Neste quadro, a educação
tradicionalista é motivo de orgulho e extremamente importante para a manutenção
do status quo.
O ensino tradicionalista
pode ser usado como exemplo para o que Paulo Freire chama de educação
bancária, ou seja, os professores depositam o conteúdo estabelecido na cabeça dos alunos sem
discussão ou desenvolvimento de pensamento crítico. A instituição, representada
nas pessoas de seus professores, domestica e aliena o aluno através do
conhecimento imposto e depositado como num banco. A competência lingüística e
cultural ensinadas pelas aulas de línguas, retórica, história, filosofia e artes garantem o sucesso
e o status social. Portanto, não se busca formar cidadãos que questionem ou
reflitam, mas almeja-se a manutenção e preponderância da classe dominante.
Retomando o filme,todos os que agissem de modo diferente
como a enfermeira ou a professora de Artes eram taxados de subversivos e
afastados da instituição. Por isso, “O importante, não resta dúvida, é não
pararmos satisfeitos ao nível das instituições, mas submetê-las à análise metodicamente
rigorosa de nossa curiosidade epistemológica”. (Freire,1998, p. 48)
Assim, a professora de artes busca ajudar as alunas a sair
de uma situação alienante para uma situação de compreensão e atuar na realidade
transformando a relação entre elas e a maneira de projetar o futuro.
De maneira a atrair a atenção das alunas, a professora inova
e surpreende saindo dos parâmetros e preparando uma aula completamente
diferente, leva à construção do conhecimento partindo daquilo que as jovens já
sabem. A professora lê os arquivos pessoais das alunas e propõe atividades
sempre diferentes e dinâmicas de acordo com as preferências das alunas, como a
visita de campo, por exemplo. Ao mesmo tempo, faz com que as meninas pensem e
reflitam sobre os pontos apresentados, instigando, questionando e ouvindo o que
elas dizem. Também, transmite segurança garantindo que não há certo ou errado e
até, na avaliação, pede que elas exponham suas ideias comparando e concluindo.
Muito difícil no começo, mas, com sucesso, ajudou na construção do conhecimento
e a abrir a mente para o novo. Assim,
podemos usar esta citação para resumir o trabalho realizado:
“Uma das
tarefas mais importantes da prática educativa-critica é propiciar as condições
em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor
ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir- se como ser social e histórico, como ser
pensante, comunicante ,transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de
ter raiva porque capaz de amar.”(FREIRE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aguardo seus comentários.Eles são muito importantes para mim pois meu objetivo é aprofundar conhecimentos e esclarecer minhas próprias dúvidas.