terça-feira, 11 de setembro de 2012

A Perda nossa de cada dia





Início do ano letivo, reunião da escola, entrega de material, compra de uniforme, lanchera e mala. Na cabeça da mãe, passa, como num filme, um milhão de detalhes para resolver. O cenário  mental é quase dantesco: a  mochila tem que ser com rodinhas – para não prejudicar a coluna, o lanche tem que ser  saudável – conforme determina a nutricionista, o material todo etiquetado e encapado, enfim, uma mãe perdida entre tantos papéis com tipos e padronagens diferentes e um medo imenso do que a espera: deixar o filho na escola. Medo e ansiedade ancoram no coração das mães.
Chegada na escola, com a imensa sacola de material no ombro, o coração pesado com saudade antecipada  e a curiosidade aguçada. Neste dia, a primeira reunião com a professora, ou melhor com aquela que irá levar seus filhos para um outro lugar, ou melhor dizendo um outro mundo   onde a mãe não faz parte, pode até visitar, mas não pode e não deve permanecer. Este fato fere com atrocidade  um coração de mãe porque este momento de deixar o filho na escola é um segundo parto, muito mais difícil que o físico pois laços invisíveis parecem desfazer-se.
Enrijecida com receio de que o filho sofra e, ao mesmo tempo, temendo que o filho se encante demais com aquela que não é TIA, mas é chamada e será amada como tal, a mãe leva o filho pela mão até sua sala. Ao deparar-se com a mulher que, daquele momento em diante será considerada a mais inteligente das mulheres e sem dúvida, emprestando o slogan do comercial de sutiã, a primeira professora a gente nunca esquece, a mãe hesita e  torna-se difícil dizer qual sofre mais :aquela mãe cujo filho  se despede e se entrega às novas aventuras com galhardia ou aquela   cujo filho, sentindo a hesitação da mãe, agarra-se tentando retardar a separação.
Todos nós sofremos perdas e cortes dolorosos, mas, assim como a árvore não morre ao ser podada, ao contrário, brota com mais vigor, o ser humano é capaz de  se renovar a cada novo ciclo. As árvores são símbolos do ser humano e do universo em suas vidas cíclicas: queda de folhas, brotos novos, flores, frutos, sementes, nova árvore, novo broto e mais um ciclo de vida com todos os mistérios da vida, morte, alegria e dor que se alternam na existência humana.
Ao sair da escola, de mãos vazias – pois o filho ficou na escola - e livre do peso da sacola com  material escolar, observe as árvores do caminho. Elas também têm muito a ensinar!






 

Um comentário:

  1. Ai Anna...se fosse só isso ! E quando crescem e se afastam físicamente e ocupam suas alminhas com amores, profissão... são outras perdas que temos que ir elaborando também.... Mas acho que estas e tantas outras "perdas" nos devolvem a nós mesmos. bjos!
    Izabel Vieira

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