sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Não tenho tempo



Andando pela rua calmamente, ouço pedaços de conversas aqui e ali. Uma frase é constante: Não tenho tempo ou Não tive tempo ou ainda, Acho que não vai dar tempo. O tempo encolheu?? Preciso perguntar para minha amiga Física e talvez, consiga uma resposta adequada e coerente.
Por enquanto, limito-me a recordar de uma frase que meu irmão me disse há alguns anos atrás: Tempo é uma questão de opção.
Primeiramente, podemos pensar que é uma inverdade, pois investimos muito tempo trabalhando e/ou estudando e que não somos donos de nosso tempo ou agendas pois os compromissos se avolumam a cada dia mais e mais.
Por outro lado, sempre conseguimos um tempo para inserir algo a  mais na agenda. A questão resume-se a estabelecer  o que é prioridade em nossa vida. Os finais de semana deveriam ser devotados ao lazer e à família, porém sempre há uma reunião, um ponto para ser estudado ou a internet consumindo mais do que deveria.
Ao tomar as rédeas do nosso tempo, começamos a ficar mais seletivos e ao mesmo tempo mais conscientes. Comece a mensurar o tempo gasto com a internet, o papo com quem não te acrescenta nada, analise as prioridades que mudaram. Como me recordou minha amiga, se  tempo é igual a velocidade dividida pelo espaço, então trabalhe  melhor a velocidade e o espaço e melhore o seu tempo. Entenda que não é falta de tempo, é escolher fazer outra coisa com o  seu tempo. 
Tempo é questão de opção. Faça suas escolhas!


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Resiliência na educação


A resiliência é um conceito emprestado da Física para definir a competência  que o indivíduo tem ou desenvolve para enfrentar situações difíceis de estresse ou pressão sem entrar em surto psicótico. Ainda segundo definições da psicologia, a resiliência é uma combinação de fatores  que propiciam ao ser humano, tomar decisões, aprender com as dificuldades e enfrentar as adversidades.Todos temos essa possibilidade de aprendizado,faz-se necessário desenvolver o auto-conhecimento, entrando em contato com sua história e sua essência.
A empresária Elisangela Ransi, consultora e palestrante na área de vendas, declara no seu livro recém-lançado Eu posso! 7 saltos para a realização: “Procuro incentivar as pessoas a acreditar na sua capacidade de vencer obstáculos e não desanimar. Ter uma atitude saltadora, que é a corajosa decisão de alcançar seus sonhos, enfrentar seus medos e, dessa forma, mostrar se sabe ou não lidar com pressão.”
Eu, particularmente,gosto muito de trabalhar com crianças porque elas têm o impulso de agir e vão resolvendo as tarefas e desafios que lhes proponho sem medo, erram e recomeçam, pois de outra maneira, não aprenderiam sequer a falar com medo de  errar. Não se inibem perante o “eu fazi” ou  “eu truxe”quando corrigido, pelo contrário, continuam a brincar com a linguagem seguindo os padrões que aparentemente se formam e não se assustam diante das exceções.
É natural titubear pois todo aprendizado tem um lado doloroso como decidir entre “escrever chocolate ou xocolate?”,  e é um tal de apaga e escreve de novo. Quem pode dizer que não há sofrimento em tentar, aparentemente em vão, decifrar um caça-palavras recheado de letras aos seis anos?
Com o tempo, o condicionamento para não só  ser avesso a mudanças, mas também, temê-las vai se instalando. Para vencer esta letargia, é preciso coragem para enfrentar os medos. Mas, você pode! Todos podem pois todos têm medo, a diferença é que alguns tem coragem para enfrentá-los. Não permita que o monstro embaixo da cama continue te perseguindo por toda a vida. Ele é apenas fruto da sua imaginação. Acenda a luz, saia da cama e permita-se errar, cair e levantar. Resgate a criança que aprendeu a andar, ler e escrever que mora dentro de você. Lembre-se de quando você caiu no playground, levou um tombo da bicicleta, esfolou o joelho andando de patins, cortou-se, tirou uma nota  abaixo da média.São todas experiências de vida.
A vida nos foi dada para grandes coisas, não se furte esse direito!


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Missão cumprida?

Ao comentar com uma amiga que eu achava que minha missão já estava cumprida neste plano, ela, indignada, me afirmou que eu ainda tenho muito trabalho a fazer e com muitos alunos pela frente.


Na verdade, este meu sentimento, vem de um orgulho que sinto pela constatação de um trabalho muito bem feito que realizei na educação de meus filhos. Tenho observado como meus filhos estão independentes, resolvendo tudo com autonomia e coerência, ou seja , sem mim!

Porém, a colocação com a qual abri esta postagem, concretizou-se ser verdadeira quando, subitamente, recebo em uma das minhas classes, caindo de pára-quedas, praticamente do NADA, dois alunos recém-chegados da Eslováquia. Um com nove anos e outro com sete sem falar inglês, muito menos português.

Recebi-os, acalentei o coração angustiado da mãe, e fui para minha sala com eles. Arredios, tímidos e ressabiados – perfeitamente normal- à princípio, integraram-se vagarosamente à classe. Antes da aula, ajoelhei-me ( porque a gente tem que falar com criança na altura deles) perto de cada aluno e pedi que colaborassem comigo na tarefa que nos esperava. Eles foram super receptivos e me ajudaram muito.

No final da aula, os novos alunos estavam correndo pelo pátio, rindo e completamente à vontade! Recebi-os de uma mãe temerosa e reticente e devolvi-os para uma mãe confortada e sorridente. Ela, assim como eu, leu nos olhares deles que eles tinham curtido muito a aula.

À noite, ao chegar num encontro com algumas amigas para um cappuccino, fui logo disparando;”Estou tão feliz!! Algo maravilhoso está me acontecendo!” E, então, muito entusiasmada relatei com pormenores não exaustivos, espero!!! Perdoem-me se o fiz!- juro que tentei não me alongar- o desafio que tenho pela frente.

Uma das perguntas feitas por elas foi como eu consegui me comunicar com as crianças. Bem, expliquei que uma delas consegue entender algumas palavras, no demais com muitos gestos, olhar e amor! Como elas vão aprender inglês? Do mesmo jeito que eu aprendi português e elas aprenderam eslovaco, ouvindo, tentando, errando e acertando.

Estou adorando o desafio!! Você tem razão amiga, ainda tenho muito que fazer por aqui! Pra começar, neste fim de semana, tenho que estudar muito sobre a Eslováquia. Deseje-me sucesso!



sábado, 14 de setembro de 2013

Caminhos do Gato de Cheshire

Falando em  Alice no País das Maravilhas, impossível não lembrar  deste diálogo:

“Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato.
Lewis Carroll


Assim, é preocupante ver jovens sem ambição, sonhos ou planos. Preferível vê-los entre sonhos bizarros a vê-los sem objetivos na vida.
Quando eu era pequena, lembro-me de ter amigos que sonhavam ser  astronautas, soldados,cientistas, médicos, mecânicos. Hoje vejo muito jovens perdidos levando um dia após o outro naquele ritmo escola, computador, sono, escola , computador, sono, um dia atrás do outro sem rumo, totalmente a deriva.
A escola e os pais têm que se indignar, municiar o jovem com conhecimento que desperte interesse e  provocar debates, leituras, atitudes  retirando-os da letargia em que se encontram.Pode não ser só mais uma fase.
O mesmo digo para os profissionais que não há possibilidade de estar bem estabelecido pois há sempre algo novo no front! Reflita, estabeleça metas e vá atrás de seu pote de ouro no fim do arco-íris. Procure  a pós graduação, o MBA, o mestrado, o curso de idiomas enfim: ACORDE!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Eu laudei, tu laudaste, nós laudamos..

Sempre ouvi dizer que de médico, poeta e louco todo mundo tem um pouco e foi assim que saímos nos sentindo após três dias em um Congresso Internacional sobre dificuldades de aprendizagem e inclusão.
A cada palestra, a cada mesa redonda, a cada conferência saíamos com mais e mais certezas e dúvidas sobre nós mesmas e todos os que nos cercam. Começamos por nos auto-analisar e, claro, impossível não lembrar dos amigos e dos familiares. Entre nós, já começamos a nos diagnosticar: somos duas com TDAH, outra com transtorno obsessivo por compras, outra com alguma TEA indefinida – porque todo mundo tem alguma característica   de TEA  leve - e outra com síndrome de ansiedade crônica. Resumindo, todas fazem parte da inclusão no ambiente de trabalho!
Na verdade, brincadeiras à parte, o objetivo desta postagem hoje é salientar que, como afirmou Julio Furtado em sua palestra, criamos o típico para justificar o anormal e assim, formar-se a contradição, mas o que é típico?
O indivíduo padrão típico, filho da modernidade, é objetivo, cumpre regras, esforça-se para progredir e se assim é alcança seus objetivos. Todavia, o que dizer daquele aluno que aparentemente não presta atenção, não faz lição, porém é capaz de responder tudo?
Além disso,é anormal esquecer objetos, recados , reuniões ou perder-se com facilidade? É típico memorizar tudo assim  que nos é apresentado e saber localizar-se?
Os parâmetros servem para nos ajudar a traçar uma linha de conduta ou estratégia, mas precisamos tomar cuidado para não categorizar, julgar e punir indiscriminadamente.
A escola de hoje é fruto de séculos de políticas e esforços homogeneizantes com o firme propósito de tornar todo mundo  igual: mesmas roupas, mesmas ideias, mesmos sonhos, mesmas facilidades.Entretanto, as diferenças são a base da experiência e da possibilidade pois geram pontos de vista diferentes e soluções surpreendentes.
Alguns professores ainda mantém o sonho de uma classe homogênea, mas como pode existir tal turma se cada ser humano é um ser único?
Michel Serres afirma que “ Antes de ensinar qualquer coisa a alguém, é preciso, conhecer esse alguém.” E para tanto, precisamos observar atentamente  que “ sem que percebêssemos, nasceu um novo ser durante um curto intervalo, aquele que nos separa da Segunda Guerra Mundial. Ele ou ela não tem mais o mesmo corpo, a mesma esperança de vida, não habita mais o mesmo mundo exterior, não vive mais na natureza,nascido sob peridural e com parto programado não teme mais  a mesma morte com efeitos paliativos.” ( Michel Serres, 2011) . Vale lembrar que um novo ser demanda uma aproximação diferente.


Obs. Laudar é um verbo inexistente nos léxicos da língua portuguesa, assim como o seu particípio laudado em função adjetiva.visualizado em 9/09/13: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/laudar.htm

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Fases de um aula inclusiva

Às vezes, pensamos que não estamos preparados para lidar com as diferentes dificuldades de aprendizagem que surgem em nossas salas de aula; entretanto, o que os alunos precisam é de clareza, consistência, compreensão e uma abordagem  com técnicas e estratégias diferentes.
Neste Congresso, Júlio Furtado compartilhou conosco sua experiência elencando dicas e os passos de uma aula inclusiva:

1- ajudar o aluno a construir sentido: não basta teorizar e trazer tudo pronto, o aluno tem que encontrar um significado  naquele conteúdo. Por exemplo, ao invés de sequenciar o alfabeto, os números ou listas de verbos, crie uma história que o ajude a  encontrar no cérebro um lugar para arquivar aquele conhecimento;
2-aproveitar o conhecimento do aluno para que o significado seja adquirido, por exemplo antes de iniciar a explicação sobre campo magnético, deixar que o aluno explique o que é campo para ele. Provavelmente, ele mencionará e descreverá um campo de futebol, daí você começa a construir um novo conhecimento.
3-apresentar o novo conteúdo permitindo que o aluno construa o conceito;não é recomendável economizar o cérebro. O professor tende a  poupar o trabalho do aluno apresentando as respostas prontas e mastigadas. Por exemplo, nosso cérebro tende a categorizar tudo naturalmente, então apresente os animais e permita que os alunos os classifiquem por semelhança primeiramente para só depois apresentar os nomes das categorias e chamar atenção para as exceções;
4-verificar se houve aprendizagem: há muitas maneiras de verificar aprendizagem sem as tradicionais provas escritas: jogos, histórias,  fotos, figuras, músicas e toda uma gama de instrumentos tecnológicos que possibilitam essa verificação;
Além disso, há alguns pontos estratégicos para alcançar todos os alunos:
- seja claro nas instruções, conciso, dê um exemplo e peça um exemplo;
-use expressões positivas, ou seja, diga o que eles têm que fazer e não o devem parar de fazer. Por exemplo, “Olhe para mim” ao invés de “Não olhe para a porta”;
- use recursos visuais.
Na verdade, todos os alunos se beneficiam desta aprendizagem, então, na verdade, o encontro das diferenças pode produzir belezas inimagináveis, como bem afirmou  o palestrante Júlio Furtado.E encarar a diversidade  de  alunos é, também, aceitar os alunos falando por mensagem, what´s up, FB  e utilizar esses instrumentos como meio de construir conhecimento.



Texto baseado em palestra de Júlio Furtado

Pedagogo, Psicólogo, Professor de Geografia. Mestre em Educação pela UFRJ. Diplomado em Psicopedagogia pela Universidade de Havana, Cuba. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Havana, Cuba. Reitor da UNIABEU-RJ. Autor de vários livros.

domingo, 1 de setembro de 2013

TDAH - sinal dos tempos modernos?

Participei de um Congresso Internacional esta semana cujo foco foi dificuldades de aprendizagem  e inclusão. Foram dias de muito aprendizado, confraternização, discussão e constatações. Uma das palestras que gostei muito tratava sobre mitos e verdades do transtorno supra-citado.
O Dr. Guilherme Polanczyk  começou apresentando que em 1854, o médico alemão Heinrich Hoffmann já descrevia um comportamento atípico em crianças com as características nítidas de TDAH e em 1902 um pediatra inglês , também apresentou relatos de crianças com hiperatividade e déficit de atenção. 
Em 1937, tratamentos com base em Benzedrina já começaram a ser utilizados, portanto, não é uma novidade dos tempos modernos nem tampouco causada pela TV ou pelo computador..
Hoje em dia, já se sabe que 5% da população mundial tem a comunicação entre as partes do cérebro prejudicada e que este fato independe do local de nascimento ou da maneira como são  criadas.
Por outro lado, sabe-se que além de haver  uma carga genética, alguns fatores como nascimento prematuro e exposição a tabaco, drogas e álcool  também podem desencadear o transtorno.
O volume cerebral é menor  nos portadores de TDAH e a velocidade de comunicação e a  realização das sinapses é diferente causando uma imaturidade de 2 ou 3 anos em relação às outras crianças.
Com o avanço da idade, há uma involução dos sintomas, porém o prejuízo é cumulativo e é a 3ª principal causa de limitação nos EUA.
Nas crianças em idade pré-escolar nota-se  a impulsividade,  a agitação marcada, difícil organização de tempo e falta de noção de perigo.
Infelizmente, A TDAH ainda é subdiagnosticada e subtratada porque os sintomas podem não ser evidentes  e a existência de comorbidades costuma também  dificultar o diagnóstico.Antes de julgar e condenar a criança, seria bom avaliar.


Guilherme Vanoni PolanczykMédico pela UFRGS, Psiquiatra e Psiquiatra da Infância e Adolescência pelo HCPA-UFRGS. Mestre e Doutor em Psiquiatria pela UFRGS. Pós-Doutorado no Social, Genetic and Developmental Psychiatry Centre, Instituto de Psiquiatria de Londres e na Duke University. Atualmente é Professor de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Departamento de Psiquiatria da FMUSP, Coordenador do Programa de Diagnóstico e Intervenção Precoce e do Programa de Psicofarmacologia do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria, HC-FMUSP e Diretor do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento (INPD).