domingo, 9 de fevereiro de 2020

Minhas coisas, nossas coisas

Ser mãe é perder o próprio nome em troca de um título. O título de mãe é repetido  pelo menos três vezes por minuto segundo Daniel Goleman. A mãe perde o nome assim que o filho começa a interagir na sociedade, porque  passa a ser Mãe de....
Ser mãe é tornar-se uma mulher sem bolsa assim que o nenê nasce porque a bolsa do nenê passa a ser   quase um uniforme. Sem espaço para nenhuma Louis Vitton ou Michael Kors.
Ser mãe é perder os sapatos logo de cara. Aqueles pés pequeninos cedo se encantam e calçam os enormes sapatos da mãe.
Mas, ser mãe, especialmente de menina, é nunca parar de perder sapatos, blusas, cintos, bolsas, jóias, bijuterias,  cachecóis, perfume, maquiagem.
Eu acreditava que minhas roupas sérias e formais de trabalhar estariam a salvo deste compartilhamento constante de arquivos. Ledo engano. Bastou que começasse a estagiar, para que meu armário, se é que ainda posso chamar assim, fosse visitado constantemente e ficasse mais leve com roupas que mudam de lugar, de corpo, de apartamento. Sem a menor cerimônia ou aviso prévio. É um upload e um download intermitente.
Certa vez, comprei um creme para meus cabelos cacheados. Não durou muito em meu tocador. Foi sequestrado abruptamente e levado para outra cidade onde é mantido em cárcere privado. Restou-me substituí-lo por outro.
Quando reclamo do sumiço de minhas coisas, ainda tenho que ouvir:  ”Mãe, quem manda ser assim tão estilosa!” Como sempre, ao final das contas, a culpa é sempre da mãe.
Esta semana ouvi um grito do banheiro, aliás deixando bem claro do meu banheiro.  Não era um inseto ou alguma emergência. Simplesmente, meu recém -adquirido produto para ser usado em cabelos cacheados secos fora descoberto. Incrível o radar de minha filha. E ainda tive que ouvir: “Mãe, usando produto de blogueira!” E eu pergunto  -Por que não? Ato contínuo, meu produto mudou de banheiro. Acho íncrível,  como os objetos em minha casa têm vida própria como no castelo da Fera em A Bela e a Fera.
Às vezes, encontro meus bens  desaparecidos sob posse da fiel depositária Dra Internet e estão sob judice dos stories no insta de minha filha. Ninguém sabe como foram parar lá e como desaparecem, não há provas materiais do furto.
E ainda acham que vida de mãe é fácil!